
Sou leitor assíduo das notícias divulgadas pelo notável “Observatório Ibérico de Energia”, trabalho digital diário, pacientemente levado a cabo pelo meu amigo António Eloy.
Conheço, há muitos anos, este acérrimo defensor dos valores da natureza e distinto paladino do uso das energias limpas. Admiro a tenacidade com que defende as suas ideias, muito embora, nalguns casos, poderei, não estar totalmente de acordo. Contudo, elas constituem, indubitavelmente, instrumentos de reflexão, tanto mais valiosos quanto, neste “admirável mundo novo”, nos pretendem impor pensamentos únicos.
Numa das últimas edições do Observatório, António Eloy remete-nos para uma notícia veiculada pelo jornal “The Guardian” sobre a planta das mil e uma moléculas “que serve para tudo, mesmo para tudo!” – a Cannabis sativa, da família botânica das Cannabaceae.
O artigo, em questão, aborda as enormes vantagens do uso dos “hempcrete”, ou seja, dos adobes preparados com fibras de cânhamo amassadas em cal para a construção de edifícios, conferindo-lhes maior qualidade.

É uma herbácea muito versátil de folhas opostas, caule oco muito fibroso que pode ultrapassar um metro de altura, com flores esverdeadas polinizadas pelo vento. O cânhamo é das plantas de mais rápido crescimento, precisando, para isso, de solos alcalinos ricos em matéria orgânica.
Tendo o cultivo sido proibido, durante algum tempo devido ao uso no fabrico de drogas, só em 1998 a União Europeia legalizou, mediante determinadas condições, a sua exploração para efeitos industriais, farmacêuticos e alimentares.
Fornecendo fibras muito fortes e duráveis que resistem à erosão da água salgada, o cânhamo tornou-se a matéria-prima ideal para o fabrico de velas e cordames náuticos. Dado que o fio de cânhamo é cerca de cinco vezes mais resistente do que o de algodão, está também a ser utilizado vantajosamente como tecido, mormente para vestuário, em combinação com o poliéster, a licra e outros materiais. Da sua utilização na construção civil, como atrás se referiu, há a destacar a leveza, a durabilidade, a resistência à humidade e às alterações térmicas.

O óleo extraído das sementes é matéria-prima para a indústria de cremes, cosméticos, vaporizadores e champôs, servindo também para tintas, vernizes e lubrificantes.
Na composição química das sementes encontra-se uma quantidade apreciável de 18 aminoácidos de conteúdo proteico de alto valor biológico. Possui também óleos essenciais (ácido linoleico, ómega-3 e ómega-6, entre outros) betacaroteno, vitaminas C, E e do complexo B e sais minerais (cálcio, cobre, ferro, magnésio, potássio, zinco e fósforo). É denotar ainda a existência de um ingrediente, o qual não provoca quaisquer efeitos alucinogénios, chamado Canabidiol (CBD), adequado para chás, pastilhas, chocolates, cervejas…
Comprovadamente, o cânhamo previne as doenças cardiovasculares, baixa a pressão arterial, melhora a memória, controla a diabetes, reduz a saciedade, favorece a perda de peso e faz aumentar a massa muscular.

As sementes de cânhamo detêm potencial elevado para uma nutrição saudável, quer no seu consumo em cru, ou misturadas com cereais no fabrico de pães, bolachas e vários suplementos alimentares.
Até as folhas jovens e tenras podem ser consumidas, enriquecendo as saladas crudíveras.
Como já se pode aquilatar, a cultura e a comercialização desta planta, devido à quantidade de usos enunciados e aos que ainda não foram detetados, está-se a tornar um negócio altamente rendível. O problema que, por ora, subsiste, prende-se com a dificuldade em obter sementes controladas para o cultivo que, como se sabe, têm que estar isentas de THC.
Atualmente é a China que detém a maior parte da produção mas, não será de excluir a previsão do rápido crescimento exponencial em todo o mundo, de uma erva que passou de diabólica a endeusada.
Sem comentários:
Enviar um comentário