segunda-feira, 5 de maio de 2025

PAIXÃO OU STRESS? A VERDADE SOBRE TRABALHAR NO TURISMO

Hotelaria, Restauração & Similares - PARTE I


"Trabalhar duro por algo que não nos importamos chama-se stress. Trabalhar duro por algo que amamos chama-se paixão." — autor desconhecido

Quem está neste momento a trabalhar na área tem a responsabilidade de honrar esse lugar. De aprender. De melhorar. De servir com profissionalismo, mesmo que ainda não tenha descoberto paixão.
 

O setor do turismo, incluindo a hotelaria, a restauração e similares, é uma das áreas mais exigentes e, ao mesmo tempo, mais gratificantes do mercado de trabalho. Envolve longas horas, atenção constante ao detalhe, empatia, resiliência e, sobretudo, paixão pelo atendimento ao público. No entanto, a realidade é que nem todos os profissionais que atuam neste setor estão lá por vocação. Muitos permanecem na profissão por necessidade, por falta de alternativas ou apenas pelo salário. E é aí que reside um dos grandes problemas: quando se trabalha apenas por obrigação, o resultado é “stress”, frustração e, muitas vezes, um serviço aquém das expectativas.
Neste artigo (Parte I e II), vamos explorar como a motivação influencia diretamente a qualidade do serviço no turismo, como o “stress” pode minar a saúde mental dos profissionais da área e por que é fundamental que quem atua no atendimento ao cliente o faça com gosto e verdadeira entrega.
A frase que inspira este artigo (Paixão ou Stress?) é, à primeira vista, simples, mas carrega uma profunda verdade. Quando trabalhamos em algo que não nos diz nada, o esforço torna-se penoso, pesado, difícil de suportar. Cada tarefa é um fardo, cada cliente um desafio, cada dia de trabalho um sacrifício. Isso é o stress: a resposta do corpo e da mente a um cenário contínuo de insatisfação. Em contrapartida, quando amamos o que fazemos, mesmo os dias mais difíceis parecem valer a pena. Os desafios tornam-se oportunidades, os clientes são vistos como convidados, e o trabalho, apesar de exigente, é recompensador. Isso é paixão: a energia que move quem está verdadeiramente comprometido com aquilo que faz. A PAIXÃO não se ensina. Pode ser incentivada, pode ser inspirada, mas não se transmite como um conteúdo técnico. É algo que nasce dentro de cada um, e no setor do turismo, faz toda a diferença. Trabalhar arduamente por algo que não nos diz nada é uma das principais fontes de stress. Cada tarefa torna-se um peso, cada cliente um esforço adicional, cada dia de trabalho uma maratona emocional. Mas quando existe paixão, tudo muda. Os desafios transformam-se em oportunidades, o cliente em prioridade, e o serviço em missão.


Na hotelaria e na restauração, o cliente está no centro de tudo. O objetivo principal é proporcionar experiências agradáveis, momentos de lazer e conforto, memórias positivas. Isso exige mais do que conhecimentos técnicos: exige empatia, paciência, comunicação eficaz e, sobretudo, vontade genuína de servir.
Uma pessoa que não gosta de atender o público, que não tem prazer em cuidar dos detalhes ou em fazer com que os outros se sintam bem, dificilmente será feliz nesta área. E se não é feliz, dificilmente prestará um bom serviço. O atendimento ao cliente exige uma postura de acolhimento e disponibilidade constantes. É sorrir mesmo quando o dia está difícil, é resolver problemas com calma, é antecipar necessidades e adaptar-se a diferentes personalidades. Nada disso é fácil — e só é possível com paixão.
O turismo — com destaque para a hotelaria, restauração e similares — é feito de detalhes e de relações humanas. Trata-se de cuidar, de acolher, de fazer sentir bem. É uma área exigente, que requer energia, resiliência, empatia e uma presença constante. E nada disso pode ser bem feito sem dedicação sincera.
Muitos profissionais encontram-se nesta área não por vocação, mas por necessidade. Uns ficaram por falta de alternativas, outros nunca pensaram sequer em seguir outro caminho. E embora seja legítimo permanecer numa profissão por questões económicas, é fundamental que, mesmo nessas circunstâncias, haja empenho em aprender e melhorar constantemente. Infelizmente, muitos profissionais encontram-se na hotelaria ou na restauração não por escolha, mas por falta dela. Alguns iniciaram na área como um “trabalho temporário” e ali ficaram. Outros, por questões económicas, não conseguem mudar de setor. E há ainda os que, apesar de não gostarem, veem nesta atividade a única forma de sustentar a família. Essas pessoas, muitas vezes, acabam a trabalhar todos os dias num ambiente que não as realiza, que não desperta entusiasmo. Sentem-se esgotadas, desmotivadas e infelizes. E essa infelicidade vai-se acumulando, tornando-se crónica, minando a saúde mental e afetando todos os aspetos da vida — pessoal, social e profissional.


O stress constante provocado por um trabalho sem sentido é silencioso, mas devastador. Pode originar ansiedade, depressão, “burnout” e até problemas físicos. E o pior: reflete-se diretamente na qualidade do serviço prestado. Um colaborador stressado é, inevitavelmente, um colaborador menos eficaz. A paciência diminui, os erros aumentam, a comunicação torna-se ríspida ou indiferente, e a empatia desaparece. Clientes percebem estas mudanças — e sentem-se menos valorizados, menos bem tratados. Num setor tão competitivo como o turismo, onde a experiência do cliente é tudo, isso é extremamente perigoso. Um cliente mal atendido não volta, e pior: pode deixar avaliações negativas, afastar outros potenciais visitantes e prejudicar a reputação do negócio.
Mais do que uma questão pessoal, o bem-estar dos profissionais do turismo é também uma questão estratégica. Cuidar das equipas é cuidar do negócio. E para cuidar, é preciso ouvir, motivar, dar formação, valorizar e, sempre que possível, alinhar talentos com funções. A vocação não é um dom mágico. É, antes, uma combinação de inclinação natural, prazer e competência. Pessoas vocacionadas para o turismo são aquelas que se sentem realizadas em fazer os outros felizes, que gostam de comunicar, que se entusiasmam com a diversidade cultural e que encontram satisfação no bem-servir.
Estas pessoas não estão imunes ao “stress”, claro — mas têm mais recursos internos para lidar com ele. Porque sabem por que fazem o que fazem. Têm um propósito. Identificar e valorizar estas pessoas é essencial para o futuro do turismo. São elas que vão garantir a qualidade dos serviços, a fidelização dos clientes e a sustentabilidade do setor.


Quem está ao serviço — ainda que veja o trabalho apenas como uma fonte de rendimento — tem a obrigação de acompanhar os colegas que se dedicam com paixão. Tem a obrigação de se formar, de evoluir, de prestar um serviço digno. Porque o cliente merece, os colegas merecem e a própria pessoa merece respeito pelo lugar que ocupa. Nem todos que trabalham em hotelaria, restauração ou áreas similares estão ali por paixão. Isso é uma realidade. No entanto, existe uma verdade inegociável: quem está ao serviço, está ao serviço com responsabilidades. E entre essas responsabilidades está o dever de formar-se, melhorar e evoluir constantemente, em respeito não só aos clientes, mas também aos colegas e à própria dignidade profissional. Estar num setor onde o cliente é o centro de tudo exige mais do que mera presença física. Exige atitude, preparação e entrega. Mesmo que alguém não tenha vocação natural, isso não deve ser desculpa para a estagnação. Muito pelo contrário — é nesses casos que a formação contínua se torna ainda mais essencial. Se um colaborador sente que o simples facto de estar a cumprir o horário já é suficiente, está a falhar. Falha com os clientes, com os colegas que se dedicam verdadeiramente e com a própria empresa que confia no seu desempenho. O mínimo que se pode exigir é empenho em aprender, em melhorar todos os dias, em dominar melhor a arte de bem atender, de comunicar, de resolver problemas.

 
Num restaurante, por exemplo, um empregado de mesa que domina técnicas de serviço, que sabe recomendar vinhos, que percebe a importância de um sorriso e de um gesto educado, eleva o nível de toda a experiência. Na hotelaria, um rececionista que sabe lidar com hóspedes difíceis, que conhece bem os serviços do hotel, que está atualizado sobre pontos turísticos ou eventos locais, transforma um simples check-in numa receção memorável. Esse tipo de competência não nasce com ninguém — constrói-se. Aprende-se. Desenvolve-se com treino, com curiosidade, com humildade e com vontade de fazer melhor. Quando mesmo os profissionais menos vocacionados para o setor se dedicam a melhorar, o ambiente de trabalho transforma-se. Há mais colaboração, mais respeito entre colegas, menos frustração e, consequentemente, menos “stress” coletivo. A qualidade do serviço sobe, o cliente nota e responde com mais elogios, mais fidelização e, muitas vezes, com mais generosidade. A verdade é que quando todos remam na mesma direção — os que têm paixão e os que ainda não a encontraram — o barco segue com mais firmeza e segurança.
Não é vergonha nenhuma admitir que se está numa profissão por necessidade. A vergonha está em acomodar-se, em não procurar fazer melhor. O turismo é feito de pessoas para pessoas — e todas elas merecem o melhor que temos para dar, independentemente da nossa motivação inicial. A excelência no turismo é um esforço coletivo. Nenhum hotel, restaurante ou empresa de animação turística consegue atingir um alto padrão de qualidade apenas com meia dúzia de colaboradores dedicados. É preciso que toda a equipa, do chef de cozinha ao empregado de mesa, do rececionista ao pessoal de “housekeeping”, se comprometa com uma mesma missão: prestar um serviço memorável. Este compromisso coletivo é mais importante do que a motivação individual. Quando todos entendem que fazem parte de algo maior — a experiência do cliente —, passam a encarar o seu trabalho com mais seriedade, mesmo que esse trabalho não seja a sua verdadeira paixão. É como numa orquestra: nem todos os músicos tocam o instrumento que mais amam, mas todos têm de tocar bem, no tempo certo, com dedicação. Caso contrário, a música sai desafinada — e o público nota.


Maria Delfina Gama
ADHP:627    DGT (Turismo de Portugal):898-DH
 Email: gamadelfina@gmail.com
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