quarta-feira, 11 de maio de 2022

"Alface" por Miguel Boieiro

Leitor, se amas o campo e a natureza,
Se és bucólico e rude e, na tua rudeza,
Só respeitas a força e a saúde;

Se às convenções da sociedade, opões
o desdém pelas normas e preceitos
que trazem pelo mundo contrafeitos
cérebros e corações;
Se detestas o luxo e se preferes,
Francamente, às senhoras, as mulheres,
E tens, como um pagão da velha Esparta,
Pulso rijo, alma ingénua e pança farta;
Se és algo panteísta e tens bem vivo
esse afagado ideal
do retrocesso ao homem primitivo
que nos tempos pré-históricos vivia
muito perto do lobo e do chacal;
Se um ligeiro perfume da poesia
que se ergue das campinas,
Na paz, no encanto das manhãs tranquilas,
Te dilata as narinas, e enche de gozo as húmidas pupilas,
- Leitor amigo, se és assim, vou dar-te,
«Se a tanto me ajudar o engenho e arte»
Uma antiga receita
que os rústicos instintos te deleita
e frémitos te põe na grenha hirsuta.
Leitor amigo, escuta:


Vai, como o padre-cura, cabisbaixo,
Pelos vergais da tua horta abaixo
quando no mês d'abril, de manhã cedo,
a luz cai sobre as franças do arvoredo,
Para sorver aqueles bons orvalhos
chorados pelos olhos das estrelas
no coração dos galhos;
Passarás pelas couves repolhudas, -
Cuidado, não te iludas,
Nem te importes com elas -
Vai andando...
Mas logo que passes
ao campo das alfaces,
Pára, leitor amigo, e faz o que te digo:
Escolhe, de entre todas, a mais bela,
Folhas finas, tenrinhas e viçosas
como as pétalas das rosas,
E enchendo uma gamela d´água pura e corrente,
Lava-a, refresca-a cuidadosamente.
Logo em seguida (e é o principal)
Que a tua mão, sem hesita, lhe deite
um fiozinho de azeite, vinagre forte e sal,
E ouvindo em roda o lúbrico sussurro
da vida ansiosa a propagar-se, que erra
em vibrações no ar,
Atira-te de bruços sobre a terra
e come-a devagar,
filosoficamente... como um burro!
In Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora
António de Macedo Papança, Conde de Monsaraz (1852-1913)

Eis a introdução poética e jocosa que me atrevi a escolher para introduzir a alface, legume abundante e conhecido de toda a gente. A Lactuca sativa pertence à família das Asteraceae e é utilizada há milénios na alimentação humana em praticamente todo o mundo. É uma planta bienal pois só ao segundo ano espiga e floresce através de capítulos providos de pequenas flores de amarelo pálido. O crescimento das folhas surge em roseta à volta do talo central.

Existem inúmeras variedades de alfaces: repolhudas, frisadas, de verde-escuro, de verde-claro e até acastanhadas. O tema é tratado profusamente em compêndios botânicos de todo o mundo O interessante “Traité pratique de Culture Potagère pour l’Afrique du Nord”, que em 1944, já ia na 4ª edição, dedica à alface treze robustas páginas.

As folhas da alface são constituídas fundamentalmente por água, numa percentagem que atinge os 95%, mas contêm também potássio, cálcio, ferro, fósforo, magnésio, silício, betacaroteno e vitaminas K, C e do complexo B.

Como é sabido, a alface deve ser consumida crua, porque se for cozida perde parte dos seus preciosos nutrientes.

Tem propriedades sedativas, alcalinizantes, relaxantes, laxantes, remineralizantes e calmantes. Ajuda a emagrecer devido ao seu baixo conteúdo energético e por garantir a rápida sensação de saciedade. O seu látex é sonífero. É igualmente recomendada para baixar o colesterol, fortalecer o sistema imunológico, prevenir a anemia e favorecer o trato intestinal por via do conteúdo em fibras.

Do livro “Dicas de Alimentos e Plantas para a Saúde” (Biblioteca da Sociedade Portuguesa de Naturalogia), respiguei, com a devida vénia, o seguinte:

A alface estimula o metabolismo e ajuda a digestão e a excreção. Possui uma irradiação quase imediata de um processo de dissolução de gorduras. Os minerais que contém chegam ao baço que é o órgão produtor de elementos imunológicos fundamentais, capazes de proteger o corpo das doenças. Esses minerais provocam um impacto direto benéfico sobre o fígado, melhorando o estado geral de todo o corpo, revigorando o metabolismo, ajudando a limpar as células gordurosas e facilitando a descarga dos resíduos acumulados.

Posto isto, só nos resta seguir o conselho do Conde de Monsaraz e mastigar lentamente as folhas da alface, como um herbívoro.


Miguel Boieiro

(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)

  

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