domingo, 23 de outubro de 2022

"O Açafrão do Mestre Xico em Alter do Chão!" por Mónica Rebelo

«Eu sou o Francisco Silva com 78 anos de idade e aqui, em Alter do Chão, a nossa gastronomia é “arroz amarelo com ensopado de borrego”! E quando eu tinha 8 anos, eu via a minha mãe a fazer, e eu adorei esta criação de “açafrão de alter”!»

 

Realmente, o açafrão, para além de ser utilizado como especiaria, dando origem a ótimas receitas a ver com risotos, massas, sopas, doces, etc, tem imensas propriedades medicinais benéficas para o nosso organismo, por sua vez concentradas no filamento da sua flor.

Mas para se conseguirem obter os melhores resultados possíveis ao nível da sua produção, neste caso de açafrão-bastardo, deverá ser semeado em outubro, para depois, sem quaisquer regas, ser secado à sombra e ter muito cuidado com a criação de borboletas, podendo estas arruinar todo o processo de uma só vez!

E conta-se que, antigamente, em Alter do Chão, bem para lá dos 200 anos, não havia nenhuma festa de casamento ou batizado onde não fosse servido o “arroz amarelo” confecionado com açafrão de Alter!

(fotografia retirada daqui)

E o Sr. Francisco Silva, mais conhecido por Mestre Xico, lá continuava a dizer o seguinte:

Há quem diga que foi o missionário Francisco Garcia Mendes que trouxe o açafrão de Goa! Aposta-se na medicina, pois tem muita coisa de valor!

Eu comecei a gostar disto, depois fui para a Câmara onde trabalhei 6 anos e fiz uma horta para as crianças no Jardim do Álamo…

E eu comecei a apostar nisto e fiz crescer sementes para todas as Câmaras aqui dos arredores…

(fotografia retirada daqui)

Há uma ciência, que são as minhas mãos, e a minha inteligência, e as tradições são para ser ensinadas: eu aprendi com a minha avó e eu gosto de fazer isto…

E dei a todos, até aos miúdos da Escola Agrícola: a professora pediu-me explicações para saber como é que se devia secar: não seque ao sol, que isto é tudo manual, seque à sombra e vai-se virando, tratando com muito cuidado, pois podem criar-se borboletas e comem-no todo…

(fotografia retirada daqui)

No meu sentido, há uma maneira de colocar a semente na terra…

É uma ciência simples, mas a maneira de eu trabalhar…

Eu luto por Alter do Chão, gosto muito da minha terra, aqui batizei e casei, formei-me e comecei a fazer isso sempre, sempre!

Fazia no meu quintal e depois passei a fazer no Jardim do Álamo…

(fotografia retirada daqui)

Mas agora, já estou reformado e já não estou na Câmara, pois vem muita gente de outros países perguntar por mim e pela semente do «açafrão de Alter», a açafroa, que tem muitas qualidades, e eu tenho a segunda melhor do mundo, porque aproveito a qualidade, pois olho para 50 castanholas, que é como eu lhes chamo, e escolho 5 ou até posso escolher só 1, que é aquela que eu vejo que é a mais pura semente…”

Para terminar, não podia deixar de partilhar consigo, meu caro leitor, a receita mais fidedigna e tradicional de Alter do Chão, tendo sido gentilmente cedida pelo Posto de Turismo, a quem eu desde já agradeço a disponibilidade para o fazer:

 

RECEITAS NA CATEGORIA DE MOMENTOS ESPECIAIS:
Ensopado de Borrego com Arroz Amarelo 


(fotografia retirada daqui) 


Ingredientes: (4 pessoas)

·        1Kg de carne de borrego
·        Sal q.b.
·        ½ di de azeite
·        1 Cebola
·        3 Dentes de alho
·        1 Folha de louro
·        2 Cravinhos
·        Colorau e noz-moscada q.b.

 Para o arroz:

·        1 Chávena de arroz
·        1 Chávena de água quente
·        1 Chávena de caldo do ensopado
·        1 Colher (café) de açafrão


Confeção:

  1. Corte a carne em pedaços, tempere-os com os alhos e sal e deixe assim uma horas. 
  2. Num tacho, leve ao lume o azeite e a cebola picada e, quando alourar, junte a carne, o louro, colorau, noz-moscada e os cravinhos e deixe refogar um pouco; junte então a água necessária para cozer a carne e para ficar com caldo para arroz; deixe apurar, sem cozer demasiado e sirva depois com o arroz.
  3. O arroz: seque o açafrão em forno pouco quente (já apagado), depois pise-o, dissolva-o na água quente e passe depois por um passador. 
  4. Num tacho, leve ao lume o arroz com o caldo do ensopado e a água do açafrão e deixe cozer.

 

Outros textos já publicados na Revista P´rá Mesa sobre Alter do Chão:

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