Desta vez vamos fazer uma pequena incursão ao reino das mentas, uma das famílias mais complexas do mundo vegetal devido aos inúmeros cruzamentos espontâneos das respectivas espécies. Na Europa podem-se contar quinze mentas bem diferenciadas que dão origem a numerosos híbridos.
O poejo é a Menta pulegium, erva aromática abundante no nosso país, especialmente nos vales inundados em épocas chuvosas e nas margens dos ribeiros. Para os alentejanos é quase desnecessário descrever a planta, pois ela é constituinte obrigatória da gastronomia tradicional. Quem é que ainda não provou uma saborosa açorda de poejos?
A planta é facilmente detetável pelo seu cheiro penetrante e agradável. Possui caule rastejante, mas que se ergue logo que começa a floração. As folhas são pequenas, opostas, pecioladas e ovais e as flores aparecem nas axilas, sendo brancas arroxeadas, com corola muito vilosa e estames compridos.
Como todas as mentas, o poejo contém uma essência da qual se extrai o «mentol», álcool que é simultaneamente anti-séptico, analgésico e estimulante, tendo constituído, através dos tempos, uma terapia ao serviço da saúde e bem-estar da Humanidade. Com efeito, o poejo tem sido utilizado desde tempos primitivos como planta curativa de grande prestígio. Os romanos utilizavam-no como afrodisíaco e também como remédio contra o alcoolismo. Um parêntesis para recordar a grande quantidade de poejos que vimos no Porto dos Cacos – Herdade de Rio Frio (Alcochete), onde existem achados arqueológicos atestando uma intensa permanência romana nesse local, durante seis séculos e constitui um dos maiores complexos industriais de fornos de ânforas conhecidos até hoje. Não será difícil imaginar esses romanos a usarem diariamente o poejo nas suas mezinhas e na alimentação. Actualmente continuam a ser muitos os povos atraídos pela radioestesia desta plantinha humilde, mas bem cheirosa. E em cada país se privilegia uma dada utilização. Vejamos:
- Na Argélia, para acalmar as náuseas e impedir os vómitos;
- Em Marrocos, para combater as infeções dos órgãos genitais femininos;
- Na Rússia, para baixar as febres;
- Na França, para fortalecer o cérebro;
- Em Espanha, como vermífugo;
- Na Alemanha, contra a anemia.
O seu valor terapêutico é tão elevado que há quem defenda a entrada obrigatória em todas as misturas vegetais para a preparação de tisanas – o famoso médico suíço, Dr. Künzle dizia que «tal como não há molhos sem sal, não existe um bom chá sem mentas».
Mas para além de planta medicinal e condimento alimentar, o poejo tem ainda a virtude de proporcionar deliciosos licores que, diluídos em água, dão origem a bebidas refrescantes extremamente agradáveis.
E vamos parar por aqui, esperando que os nossos leitores apanhem as sumidades floridas do poejo (de preferência, devem colher-se no início da floração, às primeiras horas da manhã, pois é nessa altura que há maior predominância de princípios ativos) e substituam o tradicional café por um bom chá de poejo. Aqui vai a receita:
Deita-se um litro de água fervente sobre 15 gramas da planta seca, ou 30 gramas, em verde. Deixa-se em infusão durante quinze minutos e côa-se. Muito simples, não é? Experimentem!

(texto da autoria de Miguel Boieiro, Secretário da Direção da SPN)
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