segunda-feira, 2 de junho de 2025

Poejo


Desta vez vamos fazer uma pequena incursão ao reino das mentas, uma das famílias mais complexas do mundo vegetal devido aos inúmeros cruzamentos espontâneos das respectivas espécies. Na Europa podem-se contar quinze mentas bem diferenciadas que dão origem a numerosos híbridos.


O poejo é a Menta pulegium, erva aromática abundante no nosso país, especialmente nos vales inundados em épocas chuvosas e nas margens dos ribeiros. Para os alentejanos é quase desnecessário descrever a planta, pois ela é constituinte obrigatória da gastronomia tradicional. Quem é que ainda não provou uma saborosa açorda de poejos?

A planta é facilmente detetável pelo seu cheiro penetrante e agradável. Possui caule rastejante, mas que se ergue logo que começa a floração. As folhas são pequenas, opostas, pecioladas e ovais e as flores aparecem nas axilas, sendo brancas arroxeadas, com corola muito vilosa e estames compridos.

Como todas as mentas, o poejo contém uma essência da qual se extrai o «mentol», álcool que é simultaneamente anti-séptico, analgésico e estimulante, tendo constituído, através dos tempos, uma terapia ao serviço da saúde e bem-estar da Humanidade. Com efeito, o poejo tem sido utilizado desde tempos primitivos como planta curativa de grande prestígio. Os romanos utilizavam-no como afrodisíaco e também como remédio contra o alcoolismo. Um parêntesis para recordar a grande quantidade de poejos que vimos no Porto dos Cacos – Herdade de Rio Frio (Alcochete), onde existem achados arqueológicos atestando uma intensa permanência romana nesse local, durante seis séculos e constitui um dos maiores complexos industriais de fornos de ânforas conhecidos até hoje. Não será difícil imaginar esses romanos a usarem diariamente o poejo nas suas mezinhas e na alimentação. Actualmente continuam a ser muitos os povos atraídos pela radioestesia desta plantinha humilde, mas bem cheirosa. E em cada país se privilegia uma dada utilização. Vejamos:

  • Na Argélia, para acalmar as náuseas e impedir os vómitos;
  • Em Marrocos, para combater as infeções dos órgãos genitais femininos;
  • Na Rússia, para baixar as febres;
  • Na França, para fortalecer o cérebro;
  • Em Espanha, como vermífugo;
  • Na Alemanha, contra a anemia.

Podemos, pois, afirmar que o poejo, por possuir propriedades analgésicas, antiespasmódicas, carminativas, digestivas e tónicas, é aplicado em quase todos os preparados de fitoterapia. O poejo tanto cura tosses rebeldes, como favorece as digestões, como proporciona um bom elixir dentífrico e afasta o mau hálito, como debela a rouquidão ou um ataque de anginas, como alivia as crises dolorosas da espinha dorsal, como serve de tónico cardíaco. Basta aspirar o cheiro dum raminho de poejos, frescos ou secos, para desobstruir as fossas nasais e favorecer uma boa respiração.

O seu valor terapêutico é tão elevado que há quem defenda a entrada obrigatória em todas as misturas vegetais para a preparação de tisanas – o famoso médico suíço, Dr. Künzle dizia que «tal como não há molhos sem sal, não existe um bom chá sem mentas».

Mas para além de planta medicinal e condimento alimentar, o poejo tem ainda a virtude de proporcionar deliciosos licores que, diluídos em água, dão origem a bebidas refrescantes extremamente agradáveis.

E vamos parar por aqui, esperando que os nossos leitores apanhem as sumidades floridas do poejo (de preferência, devem colher-se no início da floração, às primeiras horas da manhã, pois é nessa altura que há maior predominância de princípios ativos) e substituam o tradicional café por um bom chá de poejo. Aqui vai a receita:

Deita-se um litro de água fervente sobre 15 gramas da planta seca, ou 30 gramas, em verde. Deixa-se em infusão durante quinze minutos e côa-se. Muito simples, não é? Experimentem!


(texto da autoria de Miguel BoieiroSecretário da Direção da SPN)



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