quarta-feira, 22 de junho de 2022

“Soja” por Miguel Boieiro

Neste afã quase doentio de esmiuçar características das plantas úteis para o bem-estar dos seres humanos, tenho naturalmente privilegiado as espécies espontâneas que brotam na região atlântico-mediterrânica onde soe habitar.


Não obstante, de vez em quando, atrevo-me a uns “raids” pelas que aqui se naturalizaram ou pelas que, pelo seu uso frequente em tempos de pandémica globalização consumista, acabaram por se tornar correntes.

Atrevo-me, desta feita, a abordar a soja, de seu nome científico Soja hispida, ou Glycine soja, ou Glycine max, leguminosa quase desconhecida no Ocidente há uma centena de anos, mas que, pela sua versatilidade, alcançou merecido prestígio, tornou-se moda e alavancou benefícios vários, especialmente os de natureza económica.

A soja, oriunda dos confins asiáticos, dá para tudo em termos de alimentação. Substitui a carne, o leite, o queijo (tofu), as natas, o azeite, a farinha, os condimentos e similares (miso, tamari, shoyu, tempeh, natto), integrando acepipes sem conta, modelados pelo sabor e pela criatividade dos gastrónomos.

Na 4ª edição do “Traité Pratique de Culture Potagère pour l’Afrique du Nord “ de Hippolyte Truet, editada em Argel em 1944, era já bem extenso o rol de utilidades atribuídas a este vegetal. Em densas nove páginas de letra miudinha, o autor detalha aspetos sobre as origens da que chama “ervilha chinesa” ou “feijão oleaginoso”, da sua cultura e reprodução, das exigências do solo, dos cuidados de reprodução, da colheita, do rendimento e bem assim, do vasto leque de utilizações industriais que já então se configurava. Curiosamente, refere que os alemães (recorde-se que estávamos em 1944) haviam armazenado milhões de toneladas de soja para extração do respetivo óleo, o qual transformado em glicerina, servia para a fabricação de explosivos destinados à nefasta guerra.

No best-seller “Fifty Plants that Changed the Course of History “, de Bill Laws, a soja é elencada como grande protagonista.

Parecendo ser uma dádiva sublime da natureza, eis que a revista “Alternatif bien-être” de abril de 2020, vem suscitar a reflexão dos leitores com a seguinte questão – Poder-se-á ainda consumir soja?

A pergunta tem a ver com a constatação de que 77% da soja, hoje existente no mercado, provém de culturas transgénicas provenientes dos EUA, do Brasil e da Argentina. Estes três países detêm atualmente 81% de toda a produção mundial, baseada em Organismos Geneticamente Modificados (OGM) com enormes riscos para o ambiente e para a saúde humana, realçando-se o emprego do famigerado glifosato. Acresce ainda que no Brasil, o cultivo da soja constitui a primeira causa da desflorestação amazónica. Menciona-se seguidamente que a soja entra direta ou indiretamente na confeção de variados alimentos transformados, como sejam margarinas, vinagretes, bolachas, iogurtes, batatas fritas e carnes, já que a leguminosa integra, em grande escala, as rações dos animais estabulados.

Temos, pois, que estamos perante a ânsia desenfreada da obtenção de lucros em que vale tudo, desde que acarrete vultosos rendimentos imediatos aos negociantes da agro-indústria e do comércio alimentar.

Avancemos finalmente para descrição desta famosa leguminosa da família da Fabaceae que começou por ser, há 3 mil anos, uma das culturas sagradas da China.

A planta pode crescer até um metro de altura. Os caules, as folhas e as vagens cobrem-se de pequenos pelos cinzentos. As folhas apresentam-se trifoliadas e costumam cair antes da completa maturação das sementes. As pequenas flores são auto-férteis, brancas ou púrpuras. Cada vagem pode ter até quatro grãos de formato esférico ou elíptico.

Hoje existem mais de mil variedades de soja, as quais necessitam de verões quentes e húmidos para vicejarem. Os seus grãos contêm cerca de 20% de gordura e 36% de proteínas com quase todos os aminoácidos essenciais. Como se depreende, o seu valor nutricional é bastante elevado se atentarmos que também integram cálcio, magnésio, ferro, zinco, potássio, fósforo, cobre, vitamina C e vitaminas do complexo B.

São apontadas as suas virtudes no combate à astenia, ao colesterol elevado, à fadiga, à convalescença, à desmineralização, à diabetes, à osteoporose e aos transtornos cardiovasculares e da menopausa. A lecitina do respetivo óleo é considerada um valioso suplemento alimentar para induzir o bom funcionamento do cérebro, coração e fígado.

Todavia, pesquisas recentes apontam possíveis inconvenientes com o abuso da ingestão de produtos à base de soja, nomeadamente para quem sofre de hipotiroidismo, já sem falar nos perigos para a saúde que podem advir da soja transgénica, hoje infelizmente, muito generalizada.



(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)

  

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